O que é Parto Humanizado?

Parto Humanizado não é sobre parir em casa, não usar anestesia, se recusar a uma cesariana ou negar intervenções. Existem muitos mitos que cercam esse termo e infelizmente também se tornou uma "marca", um "rótulo" conveniente de ser vendido nos últimos anos.

O movimento da Humanização do Parto vem de muito antes das redes sociais, e ganhou forma no Brasil com grandes nomes como  Ana Cristina Duarte, Melania Amorim, Leila Katz, Jorge Kuhn e Ana Paula Caldas; a luta central sempre foi pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos das Mulheres (que elas pudessem sim escolher como e onde parir), contra a Violência Obstétrica -  as intervenções médicas desnecessárias, as cesarianas mentirosas impostas às mulheres sob a ótica da conveniência, terrorismo e desinformação. 

Parto Humanizado não é sobre luzinhas na sala, música ambiente e voz mansa ; é sobre assistência de qualidade baseada em evidência científica, decisão compartilhada, autonomia e protagonismo das famílias.

Não me sinto confortável em parir em casa. Pode ser no hospital?

Com certeza. O melhor lugar para o parto é onde a mulher se sente segura.  O Parto Domiciliar é um direito das mulheres, não um dever. Você não precisa justificar suas escolhas para ninguém. 

É possível ter anestesia? 

Sim. Se for do desejo da mulher que está parindo e ela tiver acesso a todas as informações sobre o procedimento, a analgesia de parto pode ser um recurso importante. Dica: coloque no seu plano de parto como você gostaria que esse tópico fosse tratado durante o seu trabalho de parto (você quer que seja oferecida? quer postergar ao máximo o seu uso? quer utilizar assim que solicitar? quer ser incentivada a evitar se não houver necessidade? Converse muito com seu acompanhante sobre isso também.)

E se eu precisar de uma cesariana? 

Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 15% das mulheres vão precisar de uma cesariana e que bom que ela existe. A maioria das indicações de cesariana são feitas durante o trabalho de parto, e se houver indicação, vamos conversar, entender o cenário e nos preparar pra conhecer a "pessoinha" que está chegando da melhor forma possível. Profissionais da Humanização do Parto também fazem cesarianas. 

Quero um parto normal, mas não precisa ser humanizado não.

Talvez você só não saiba disso ainda, mas acho que você precisa sim. Acredito que nenhuma de nós quer sofrer violência obstétrica - ouvir xingamentos, agressões verbais e psicológicas, ser obrigada a realizar procedimentos sem consentimento e sem informação, ser obrigada a ficar em alguma posição desconfortável, ser deixada em jejum sem comida ou água por longas horas em trabalho de parto, ter seu parto negligenciado ou levada a uma cesariana desnecessária. 

Tem que nascer na banheira?

Não. A banheira (ou banho de imersão) é uma maneira de aliviar a dor do trabalho de parto, uma método não-farmacológico que auxilia muitas mulheres, tanto que muitas não querem mais sair da banheira e acabam ficando ali até o nascimento. Não há problema nisso. E também não há problema em não querer estar ali, para o nascimento ou não. Algumas mulheres acabam detestando ficar na banheira e está tudo bem também.

E aquele "cortinho" lá embaixo? Não é bom fazer? 

Não temos qualquer evidência de benefício real em realizar a episiotomia, famoso por ser "um cortinho" ou "piquezinho" no períneo. A episiotomia é uma violência e uma mutilação genital, não há hoje qualquer evidência científica clara sobre sua realização.

E essa tal de doula? Precisa mesmo? 

A doula é uma profissional da educação perinatal além de suporte emocional, psicológico e físico durante todo o processo gestacional e de nascimento. Temos estudos mostrando que a presença da doula melhora a experiência do parto (independente do desfecho), reduz a necessidade de analgesia farmacológica, protege da violência obstétrica e diminui a chance de cesariana. Ou seja...

"Se doula fosse um remédio, seria antiético não receitar" 

John Kennel, pediatra pesquisador, 1991.

Intervenções Médicas e Parto Humanizado

O movimento da Humanização não é contra as intervenções obstétricas, mas defendemos que elas sejam utilizadas de forma racional, com real indicação, ao invés de forma rotineira como muito se faz. As intervenções quando bem utilizadas salvam vidas e garantem bom desfecho para as famílias, porém se utilizadas sem critério aumentam riscos sem um benefício claro.

Então sim, temos um arsenal com várias ferramentas de indução de trabalho de parto, condução do parto, parto instrumental - fórceps e vácuo-extrator, cesariana, analgesia de parto, manejo corporal...E devemos utilizar com sabedoria.


   "Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer." - Michel Odent, obstetra francês.    


Dúnia Valle

CRM-SP 171510 / RQE 89376

Médica Ginecologista e Obstetra