Violência Obstétrica
Será que isso existe mesmo?
Tem muita gente interessada em tentar dizer que não...
Mas quem é de verdade, sabe quem é de mentira. E sabe que existe sim, e muito.
Violência Obstétrica (V.O.) é toda situação de violência física, verbal, s_xual e/ou psicológica vivida no contexto da gestação, nascimento, pós-parto e abortamento. Podemos caracterizar como parte do espectro da Violência de Gênero.
Infelizmente o termo ainda não é tão conhecido como deveria, o debate é difícil e é extremamente comum que as mulheres que viveram situações violentas não saibam reconhecer como Violência Obstétrica (assim como ocorre em outras situações de violência sexual não é?).
Se não sabemos nomear, é como se não existisse, certo? Muitas mulheres só se dão conta que sofreram V.O. após muitos anos...
Por isso é tão importante que a gente aprenda "a dar nome aos bois" cada vez mais e falar sobre V.O. faz parte da educação perinatal.
Segue alguns exemplos:
Violência Verbal: gritos, humilhações, ameaças, julgamentos, negação de informações, desconsideração das queixas e sentimentos da mulher.
Violência Física: procedimentos invasivos sem justificativa médica, realização de episiotomia, indução do trabalho de parto sem indicação médica, cesarianas desnecessárias, manobras bruscas, restrição de movimentos durante o trabalho de parto, jejum prolongado sem indicação, restrição de movimento/braços amarrados na cesariana.
Violência S_xual: realização de exames ginecológicos sem consentimento, exposição do corpo da mulher durante o parto, realização de procedimentos dolorosos sem anestesia, situações de assédio e estupro.
Violência Psicológica: negação do direito à acompanhante, negação da possibilidade de amamentar, indução ao medo e à culpa, desrespeito à decisão da mulher sobre o parto, separação da mãe e do bebê após o nascimento.
A violência obstétrica deixa marcas na vida da mulher, impacta negativamente a experiência de nascimento e até a relação mãe-bebê. Alguns exemplos de consequências são: depressão pós-parto, dificuldade na amamentação, transtorno de estresse pós-traumático, sentimentos de culpa e vergonha, dificuldade no vínculo com bebê e surgimento ou agravamento de queixas s_xuais (dor na relação, falta de desejo, dificuldade no org_smo e lubrificação).
Se você ainda não está tão convencida de que o sistema obstétrico está sim adoecido recomendo fortemente os documentários "O Renascimento do Parto" 1, 2 e 3. Estão disponíveis cortes no YouTube e completo para alugar no YouTube e GooglePlay.
Dúnia Valle
CRM-SP 171510 / RQE 89376
Médica Ginecologista e Obstetra